O objetivo deste blog é discutir a presença dos bandeirantes paulistas Domingos Jorge Velho e Francisco Dias de Siqueira no Piauí seiscentista. Por incrível que possa parecer, até hoje não se sabe a exata localização do famoso arraial dos paulistas, primeiro núcleo urbano do Piauí.
Costuma-se apontar a região do rio Sambito, em Valença do Piauí, como o lugar no qual se ergueu esse famoso aldeamento. Porém, conforme a "Descrição do Sertão do Piauí", do Pe. Miguel de Carvalho, tal núcleo estava situado entre as fazendas São Francisco Xavier e o Sítio Catarina. Tais lugares não nos remetem à Valença do Piauí, mas à antiga freguesia de Piracuruca.
Afinal, duas perguntas são pertinentes:

1- São Francisco de Xavier não seria a Missão de São Francisco de Xavier, "criada em 1658 pelso jesuítas, na serra de Ibiapaba, para aldear os Tabajaras" (Neto, Adrião. Geografia e História do Piauí para estudantes: da pré-história à atualidade. Teresina: Edições Geração 70, 2004. p. 116), a qual estava situada na zona rural do atual município de São João da Fronteira (Piauí)?

2 - O Sítio Catarina não está próximo ao atual rio Catarina que desemboca suas águas no rio Piracuruca ou São Vítor?



domingo, 29 de abril de 2012

Arraial dos Paulistas no Piauhy: A descrição do Arraial dos Paulistas      Talvez...

Arraial dos Paulistas no Piauhy: A descrição do Arraial dos Paulistas

      Talvez...
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A descrição do Arraial dos Paulistas

      Talvez, a maior dificuldade para os historiadores é saber adequar a linguagem da descrição seiscentista com o atual conhecimento geográfico dos rios e topônimos do Piauí. Sem dúvida, as limitações deste relatório de 1697, escrito pelo Pe. Miguel de Carvalho, o qual acertadamente o Pe. Cláudio Melo nos alerta que foi escrito durante quatro anos de viagem, fazenda por fazenda, pelo imenso sertão do Piauí.
       Não acabe aqui descrevê-lo por inteiro, mas apenas chamar a atenção do leitor para o povoamento do norte do Piauí, em especial as razões para se pensar que a verdadeira localização do Arraial dos Paulistas ocorreu muito mais próximo a sede da Missão Jesuítica de Ibiapaba, em Viçosa do Ceará. De fato, se refletirmos que tal núcleo era o mais povoado nos seiscentos, e alguns decênios depois, a região desde Campo Maior, passando por Piracuruca, até Parnaíba, era uma das mais povoadas do Piauí, com inúmeras fazendas e moradores. Não haveria uma continuidade? Que condições propícias puderam ser estabelecidas para o assentamento de tantos currais?
        Deixemos o leitor curioso. Voltemos ao trecho transcrito pelo Pe. Cláudio Melo, que traz a localização do dito arraial. Porém, ainda motivo de polêmicas para situá-lo em seu devido lugar na história do Piauí. O próprio Pe. Claudio Melo é enfático ao afirmar que "lá está a chave do segredo para o povoamento definitivo" (P. 45).

"XVII -Riacho Santa Catarina. Corre do sul ao norte, entra em São Vitor (Nota do blogger: aqui é o ponto da discórdia. O São Vítor mencionado seria o atual Sambito, próximo a Valença do Piauí, como muitos historiadores defendem? Ou, mais ao norte, teria outro São Vítor? Hipótese esta apoiada no topônimo Bitorocara). Tem duas fazendas seguintes:

01- A primeira se chama São Francisco Xavier, estão nela Francisco da Cunha e Antônio de Paiva com 4 índios; dista que se segue 3 léguas.

02- A segunda e última, que está na barra , chama-se o Sítio da Catarina está nela Antônio Gomes com 3 negros, é o dono da fazenda André Gomes da Costa, com um tapúia.

Entre estas duas fazendas estão uns olhos d'água a que vulgarmente chamam Brejos, em os quais está situado o Capitão Mor dos Paulistas, Francisco Dias de Siqueira, com um Arraial de tapúias, com os quais faz entrada ao gentio bravo e lhe tem o encontro para que não ofendam a povoação. Tem algumas plantas de farinhas, arroz, milhos, feijões e frutas, como são bananas, batatas, que tudo se dá com grande abundância, mostrando a fertilidade da terra e a incúria dos moradores que, por sua preguiça, não têm frutos de que vivam" (Transcrito de Pe. Claudio Melo, p. 24).


        

sábado, 31 de março de 2012

Arraial dos Paulistas no Piauhy: Descrição do Sertão do Piauí (Pe. Miguel de Carval...

Arraial dos Paulistas no Piauhy: Descrição do Sertão do Piauí (Pe. Miguel de Carval...: Descrição do Sertão do Piauí (Pe. Miguel de Carvalho, 1697) O trecho abaixo foi copiado de uma transcrição realizada pelo Pe. Claudio Melo...
Descrição do Sertão do Piauí (Pe. Miguel de Carvalho, 1697)

O trecho abaixo foi copiado de uma transcrição realizada pelo Pe. Claudio Melo, publicada em 1993 pelo Instituto Histórico e Geográfico Piauiense, "Descrição so Sertão do Piauí (Comentários e notas do Pe. Cláudio Melo). É a partir desse texto que irei fazer as minhas críticas e a defesa da nova localização para o Arraial dos Paulistas.

"Descrição do Sertão do Piauí remetida ao Ilmo. e Revmo. Sr. Frei Francisco de Lima, Bispo de Pernambuco.

I - Tem o sertão do Piauí , pertencente à nova Matriz de Nossa Senhora da Vitória, quatro rios correntes, vinte riachos, com cinco riachinhos, dois olhos d'água e duas lagoas, à beira das quais estão 129 fazendas de gados, em que moram 441 pessoas, entre brancos, negros, índios, mulatos e mestiços. Mais lagoas e olhos d'água tem, em que moram algumas pessoas que, por todas as de sacramento, fazem o número de 605, em que entra um arraial de paulistas, com muitos tapuias cristãos, o qual governa, o Capitão Francisco Dias de Siqueira. Com os que não são de sacramento, chega o número de todas as pessoas, de uma a outra qualidade ... batizados que ficam à obediência da nova Igreja (conforme o rol dos confessados). Os nomes e paragens das fazendas se acham no rol abaixo, com a distância de léguas que há de umas às outras, e nomes dos homens que nelas estão por arrendamento.

II - De todas estas terras são Senhores, Domingos Afonso Sertão e Leonor Pereira Marinho, que as partem de meias. Têm nelas algumas fazendas de gados seus, os mais arrendam a quem lhe quer meter gados, pagando-lhe dez reis de foro, por cada sítio e, desta sorte estão introduzidos donatários das terras, sendo só sesmeiros, para as povoarem com gados seus, em tanto que até as Igrejas querem apresentar, e esta nova queriam fundada debaixo do título da sua.

III - Forma de povoação e distrito da nova Freguesia de Nossa Senhora da Vitória, de novo levantada no sertão do Piauí, por ordem do Ilmo. e Rvmo. Sr. Dom Frei Francisco de Lima, Bispo de Pernambuco.
Esta povoação do Piauí, situada em 3 graus para a parte do sul, no meio do sertão que se acha entre o rio de São Francisco e a costa do mar que corre do Ceará para o Maranhão, da qual distará pelo caminho sabido 80 léguas.

IV- Confina, pela parte do nascente, com os sertões desertos que correm para Pernambuco, pelos quais não se tem descoberto caminho, nem se vadeam, em razão dos muitos gentios bravos que neles habitavam, e só se tem chegado, pela parte desta povoação, a avistar um serra chamada o Araripe, que dizem ser muito alta  e que na superfície tem de plano 50 léguas. De uma e outra parte está rodeada de várias nações de Tapúias bravos.
Para o poente confina com os matos desertos que correm para as Índias da Espanha, pelos quais não há caminho, nem se sabe de seu fim.  Por eles (a) dentro têm chegado algumas tropas de paulistas (a) avistar grandes rios, entre os quais contam o do Grão Pará, Parnaíba, Gurguéia, Paraim, que todos correm para o norte. E na mesma altura acharam o Rio Grande e o Rio Preto, grandes e caudalosos, que correm para o sul e se metem no rio de São Francisco, 500 léguas ao sertão, acima de sua barra, junto do qual estão estes dois rios povoados com fazendas de gados, com muitos moradores, entre os quais se vai, de presente, fazer uma nova Matriz, por ordem também do Ilmo. e Rvmo. Bispo de Pernambuco, a qual ficará distando desta do Piauí  220 léguas, pelo caminho sabido. Estes rios estão ao sertão povoados de muitos Tapúias bravos, valentes e guerreiros, entre os quais se acham alguns que se governam com alguma rústica política, tendo entre si Rei, e chamado a seus distritos reinos, como são os Rodeleiros que se contam com sete reinos e são tão guerreiros que até agora não foram ofendidos, nem de entre eles se tem apanhado língua, sendo muitas vezes acometidos por grandes tropas de paulistas. Pelejam com rodelas muito grandes, feitas de um pau chamado caraíba, as quais na batalha levam uns e outros. Ao reparo delas pelejam com arco e flecha, lanchas e cachaporras.
Para a parte do norte, confina esta povoação com a costa do mar, correndo do Ceará para o Maranhão, para a qual tem dois caminhos, abertos no ano 95; um vai ao Maranhão e outro à serra de Guapaba, para a qual têm ido moradores e, em companhia de alguns, vieram os Padres da Companhia de Jesus, que nela assistem, fazer missão a esta povoação em o mês de Dezembro próximo passado de 96, e se recolheram à serra em Janeiro de 97. Distará esta Serra das últimas fazendas dos Alongazes, que pertencem a esta Freguesia, 20 léguas.
Para o Maranhão há também caminho seguido que, dizem, terá 90 léguas, e já com princípio de comércio de redes, pano de algodão e cuias, que nesta povoação trocam por vacas, com a intenção de se levarem para as terras do Maranhão.
Junto com os homens deste negócio e outros moradores desta povoação, veio da dita praça o Doutor  Manuel Nunes Colares para o Desembargo da Relação da Bahia, em o mês de janeiro deste ano de 1697 e, no caminho toparam com os tapúias bravos chamados Aroatizes e Guanares, com os quais se ajustaram pazes que, sendo firmes, será em grande utilidade do comércio, por ficar o caminho sem impedimento" (p. 14-16).