Talvez, a maior dificuldade para os historiadores é saber adequar a linguagem da descrição seiscentista com o atual conhecimento geográfico dos rios e topônimos do Piauí. Sem dúvida, as limitações deste relatório de 1697, escrito pelo Pe. Miguel de Carvalho, o qual acertadamente o Pe. Cláudio Melo nos alerta que foi escrito durante quatro anos de viagem, fazenda por fazenda, pelo imenso sertão do Piauí.
Não acabe aqui descrevê-lo por inteiro, mas apenas chamar a atenção do leitor para o povoamento do norte do Piauí, em especial as razões para se pensar que a verdadeira localização do Arraial dos Paulistas ocorreu muito mais próximo a sede da Missão Jesuítica de Ibiapaba, em Viçosa do Ceará. De fato, se refletirmos que tal núcleo era o mais povoado nos seiscentos, e alguns decênios depois, a região desde Campo Maior, passando por Piracuruca, até Parnaíba, era uma das mais povoadas do Piauí, com inúmeras fazendas e moradores. Não haveria uma continuidade? Que condições propícias puderam ser estabelecidas para o assentamento de tantos currais?
Deixemos o leitor curioso. Voltemos ao trecho transcrito pelo Pe. Cláudio Melo, que traz a localização do dito arraial. Porém, ainda motivo de polêmicas para situá-lo em seu devido lugar na história do Piauí. O próprio Pe. Claudio Melo é enfático ao afirmar que "lá está a chave do segredo para o povoamento definitivo" (P. 45).
"XVII -Riacho Santa Catarina. Corre do sul ao norte, entra em São Vitor (Nota do blogger: aqui é o ponto da discórdia. O São Vítor mencionado seria o atual Sambito, próximo a Valença do Piauí, como muitos historiadores defendem? Ou, mais ao norte, teria outro São Vítor? Hipótese esta apoiada no topônimo Bitorocara). Tem duas fazendas seguintes:
01- A primeira se chama São Francisco Xavier, estão nela Francisco da Cunha e Antônio de Paiva com 4 índios; dista que se segue 3 léguas.
02- A segunda e última, que está na barra , chama-se o Sítio da Catarina está nela Antônio Gomes com 3 negros, é o dono da fazenda André Gomes da Costa, com um tapúia.
Entre estas duas fazendas estão uns olhos d'água a que vulgarmente chamam Brejos, em os quais está situado o Capitão Mor dos Paulistas, Francisco Dias de Siqueira, com um Arraial de tapúias, com os quais faz entrada ao gentio bravo e lhe tem o encontro para que não ofendam a povoação. Tem algumas plantas de farinhas, arroz, milhos, feijões e frutas, como são bananas, batatas, que tudo se dá com grande abundância, mostrando a fertilidade da terra e a incúria dos moradores que, por sua preguiça, não têm frutos de que vivam" (Transcrito de Pe. Claudio Melo, p. 24).
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